Minha História com o Negroni: Uma Viagem de Sabor, Tempo e Essência

Minha história com o Negroni começou em 2001, na mesma cidade onde o drink nasceu: Florença. Foi lá, entre vielas renascentistas que experimentei meu primeiro Negroni — e me apaixonei de imediato. Não foi só o sabor: foi o ritual, a complexidade, o amargor elegante que parecia conversar comigo.

Ao voltar ao Brasil, encontrei um cenário diferente. O Negroni era quase desconhecido. Poucos bares sabiam prepará-lo, e os que sabiam, muitas vezes o faziam de forma descuidada. Decidi, então, fazer o meu próprio Negroni em casa.

Desde então, cada viagem internacional tornou-se uma missão: provar Negronis ao redor do mundo, conversar com bartenders, entender segredos, ajustes, proporções. Essa busca por excelência e identidade foi me levando, aos poucos, à criação da minha própria receita — a que mais me agradava, fiel às origens, mas afinada ao meu paladar.

Para facilitar o serviço em jantares e festas, comecei a preparar meu Negroni com antecedência, engarrafado, pronto para ser servido com praticidade e estilo. E com o tempo, nasceu algo ainda mais especial: o Negroni envelhecido em barris de amburana.

A madeira brasileira trouxe ao coquetel uma nova dimensão: notas de baunilha, canela, castanha, mel e um delicado aroma amadeirado característico da amburana, que envolve o paladar com calor e profundidade. No início, era produzido apenas um único lote por ano, cuidadosamente reservado para momentos especiais como as festas de Natal e Réveillon, além de ser presenteado a amigos próximos. Hoje, guardo com orgulho na minha adega uma "vertical" com um exemplar de cada lote produzido desde 2018 — uma linha do tempo líquida, onde cada garrafa conta um capítulo da minha jornada com o Negroni.

O nome “Reserva 1977” surgiu quase por acaso — uma consequência natural do que aquele líquido representa: a síntese de minha vivência, experiências e gostos construídos desde o ano do meu nascimento.

Minha receita leva três gins distintos em blend, três vermutes selecionados, e o Campari original, como exige a tradição e reforça a própria IBA (International Bartender Association). Nunca adicionei água — apenas os três ingredientes base, equilibrados por alguns segredos cuidadosamente guardados, criados para domar o amargor e realçar o dulçor na medida certa.

Em 2020, durante a pandemia, enfrentamos a escassez de garrafas de vidro. E, ao mesmo tempo, percebemos quanto vinho consumíamos em casa, descartando garrafas belas e resistentes. Foi aí que algo me incomodou profundamente: o mundo precisava de vidro, e nós estávamos jogando fora o que poderíamos reutilizar.

Decidi, então, incorporar um princípio de sustentabilidade à minha marca. Comecei a usar garrafas de vinho previamente esterilizadas. Para fechá-las, utilizamos rolhas — e para selar, cera. Um detalhe especial dá o toque final: um sinete com a letra “C”, comprado em Londres, em 2011, usado para marcar cada lacre como assinatura pessoal.

Todo o processo, até hoje, é artesanal e minuciosamente cuidado, garrafa por garrafa, lote por lote, com o mesmo zelo e encantamento de quem, em Florença, se apaixonou por um copo vermelho-âmbar e decidiu que aquilo seria mais que uma bebida. Seria uma história para se contar. E brindar.